terça-feira, 31 de julho de 2012

A ilha dos acontecimentos

A ilha dos acontecimentos

Em meados de 1611 o mundo ainda vivia a época das grandes navegações, o Brasil já tinha sido encontrado pelos portugueses, a Espanha possuía diversas colônias. Mas, havia um navegador espanhol, filho de mãe italiana e pai português, chamado de Miguel Della Cruz, jovem de 25 anos, conhecido na sociedade dos grandes mares como “O navegador das 11 mancadas”. O seu apelido era por ter saído em 11 expedições marítimas e o máximo que havia encontrado era um par de botas velhas. Ele era ridicularizado pela sociedade ibérica, sua licença de navegador estava vencendo e, o presidente da sociedade dos navegadores ibéricos já havia avisado que se ele não encontrasse nenhuma nova terra em no máximo seis meses, ele poderia procurar outra profissão.
Della Cruz estava preocupado, a única coisa que ele gostava de fazer era explorar os mares. Apesar de nunca ter obtido êxito, acreditava em seu próprio potencial, pensava ter sido azarado até os atuais dias, mas sentia que o seu dia de glória estava próximo. O espanhol agora estava a organizar uma expedição para navegar pelos mares das Américas, pois acreditava estar lá seu pedaço de terra destinado. Só que ninguém estava apoiando sua iniciativa, pois acreditavam que todos os segredos que haviam nas Américas já estavam desvendados. Miguel precisava de dinheiro para a sua empreitada, mas o rei ou qualquer membro da sociedade dono de abundante fortuna não estavam dispostos a investir no jovem Della Cruz.
Miguel estava desesperado, andava pela casa como um louco, tentando pensar como obteria o dinheiro para a realização de sua investida. Não pensava em desistir, não podia desistir, era seu sonho em jogo.
Quando como em passe de mágica batem a sua porta. Ele abre e encontra um senhor de idade, aparentando mais de 60 anos, trajando roupas requintadas, dono de um olhar misterioso.
Della Cruz pergunta:
- Em que posso ajudar?
O senhor responde:
- Meu jovem, é você o famoso Miguel Della Cruz?
Miguel responde:
- Sim, sou. Mas, de famosas só tenho minhas decepções.
O velho discorda:
- Decepções são partes integrantes da vida, sem elas não poderíamos encontrar nosso verdadeiro caminho.
E completa:
- Meu rapaz, não fique assim tão negativo, pois vim aqui para alimentar seus sonhos.
Assustado, Miguel pergunta:
- Como assim, não estou te entendo senhor.
O senhor misterioso explica:
- Jovem navegador, sou eu a solução para seus problemas financeiros, sua grande vontade me trouxe para socorre-lo.
Della Cruz sem entender nada indagou:
- O senhor andou abusando do vinho?
Sorrindo o senhor responde:
- Não querido amigo, não estou embreagado, sou um anjo e vim à Espanha para guia-lo para o caminho traçado em seu destino.
Della Cruz sem paciência soltou:
- Não estou precisando de anjo neste momento, preciso sim, é de dinheiro para contratar homens e reformar meu barco para viajar rumo as Américas.
O anjo o interrompeu tirando uma saca do bolso e disse:
- Tome seu dinheiro, aqui tem 200 moedas de ouro mais do que suficiente para você cobrir todos os seus gastos, mas tem uma condição para eu te dar esse benefício.
Miguel embasbacado com tanto dinheiro falou:
- Pode pedir o que quiser que eu farei qualquer coisa.
O misterioso anjo complementou:
- O que eu quero é que você encontre seu nativo sonho e coloque o meu nome neste pedaço de terra, pode ser?
Miguel eufórico nem prestou atenção direito, envolto com o brilho do ouro .
O anjo perguntou novamente:
- Então, nobre rapaz, temos um trato ou não?
- Sim, temos sim, nem dando bola para qualquer tipo de promessa.
Nisso o anjo entrega-lhe o ouro e desaparece como um passe de mágica.
Della Cruz não acreaditava que seus problemas financeiros estavam solucionados, agora era só correr atrás de seu sonho, mas tinha prometido algo para o anjo; o que era mesmo?
Indagou sozinho:
- Deixa pra lá, não deve ser importante!
Nosso navegador reune sua equipe e já se prepara para a aventura em busca de um sonho que apesar de Miguel ser jovem já tinha sofrido tantos tropeços em sua eterna busca.
Um dia chuvoso na parte sangue quente da europa, tudo pronto para a navegação apesar das condições climáticas ruins, lá se vai nosso jovem e persistente amigo navegador.
Já se passam dois meses de alto mar, Miguel está cansado, mas confiante, estavam navegando águas latinas. O clima era ótimo, muito sol e um céu azul de brigadeiro, para falar a verdade toda a tripulação estava derretendo de calor, pouco acostumados com o intenso calor dos trópicos. Della Cruz nunca tinha chegado tão perto de seu objetivo, nas outras onze vezes faltou suprimentos, tiveram problemas de doenças, mas desta vez, graças ao vil metal do anjo levaram uma equipe com médico e enfermeiros para o mar, estavam preparados para descobrir o mistério do desconhecido.
Batiam as badaladas do terceiro mês de navio, os marinheiros estavam desanimados, mas Miguel não descia um centímetro de esperança, iria vencer qualquer desafio. Anoitece um grande cinza, um nevoeiro cobre até os pêlos do nariz, a tripulação teme pelo pior pois não sabiam para onde o mar iria lhes levar.
Della Cruz grita para todos:
- Nós já estamos três meses neste mar guiados por bússulas e cálculos e não tivemos êxito, vamos relaxar e deixar o mar fazer este papel para nós, vamos deixa-lo nos levar para a ilha de nossos sonhos. Alguns marinheiros concordam com Miguel, outros descordam veementemente, gerando um conflito que chega as vias de fato. Miguel tenta segurar a situação, mas toma um soco na boca do estômago e fica desfalecido no convés. Como grande parte da tripulação que fica sem energias de tanto que brigaram.
Pela manhã, todos acordam com dor em algum local do corpo, mas quando abrem os olhos não existe mais nevoeiro e o que vêem a frente não é o interminável mar, mas sim terra firme e palmeiras. Miguem ainda meio bambo pelo soco tomado fica embasbacado com tanta beleza e já prepara o barco para colocarem os pés em terra firme e constatarem se aquilo era verdadeiramente real. Descem o barco e lá vão nossos bandeirantes. O primeiro a fazer menção de colocar o pé é nosso ilustre e perseverante Miguel Della Cruz. No momento em que vai pisar a areia um campo de força luminoso lhe impede a façanha e lhe atira ao mar. Todos ficam atônitos, Miguel assustado tenta novamente e vai parar ainda mais longe.Todo molhado grita:
- Mas o que é isto, é coisa do demônio, essa ilha é o inferno. E todos começam a remar, para voltar ao navio, completamente apavorados já pegando seus terços e rezando suas vãs orações. Miguel está tão atorduado que volta ao navio nadando. Chegando, vê seus homens em prantos pedindo proteção de suas mãezinhas.
Miguel chama todos e conclama:
- Amanhã pela manhã iremos de volta a Madrid, e prometo a todos os meus fiéis seguidores nunca mais irei colocar meu pés em navio, meu espírito aventureiro morre aqui, nestas palavras.
Os homens ficam surpresos, mas de tanto medo do demônio acham ser a melhor solução. Passam o dia arrumando as coisas para a volta à Europa. Chega a noite todos tristes e calados rumam aos dormitórios para recuperarem a energia necessária para regressarem pela manhã.
Miguel rola a cama todinha tentando ibernar, de tão cansado, mas demora para pregar o olho, está com medo e muito decepcionado. Como foi achar logo a Ilha do Diabo, não sabia o que iria fazer da vida e decidiu-se a aprender o ofício de ferreiro, trabalho que seu velho avô teve devoção até o dia de sua morte. Pensando no avô Miguel adormece e tem um incomum sonho, seu velho avô vem lhe visitar e lhe diz:
- Miguel lembra do anjo que patrocinou sua viagem?
Miguel responde:
- Lembro sim vovô, mas o que tem ele? Ele era eu desfarçado, já era minha intenção lhe dar todo o dinheiro que tinha guardado em vida para você alcançar seu sonho.
- Era o senhor? Indaga o marinheiro.
- Obrigado meu amado avô, mas infelizmente te decepcionei, procurava por um lugar encantado mas só encontrei a Ilha do Diabo.
O avô riu e lhe perguntou: Você lembra da condição que eu em forma de anjo lhe impus para o patrocínio desta viagem?
- Miguel encabulado responde: Sinto muito meu velho avô, mas fiquei tão fascinado com o ouro que nem prestei atenção.
O avô lhe repreende:
- Viu, nunca dê mais atenção aos bens materiais do que as pessoas, e ainda mais anjos, mas mesmo assim vou te ajudar. Ajudar como, agora só quero ir para casa e esquecer de mais essa decepção.
O avô lhe ampará e anuncia:
- Querido neto, você nasceu para a navegação, não abandone seu sonho por mais que isso lhe pareça inviável. Olhe, o que lhe pedi como condição foi que que desse o meu nome a ilha que você encontrasse, você fez isso?
- Não meu sábio avô, pelo contrário lhe coloquei o nome de ilha do diabo.
O velho anjo lhe ensina pacientemente:
- Viu por isso não conseguiu pisar o solo, pois lá é um lugar diferente, onde as promessas deve ser cumpridas, volte lá e dê meu nome e tudo ficará bem.
Nisso seu avô lhe beija a face e some como uma nuvem.
Miguel resona e acorda, o dia já está claro e seu tripulante já estão a postos para baterem em retirada. Miguel chama todos e proclama:
- Queridos amigos tinha uma revelação em sonho durante a noite, aquela ilha não é do diabo, mas sim, um paraíso em terra. E, iremos lá tomarmos posse desta dádiva que deus nos colocou. Os homens ficaram aprrensivos e disseram que não iriam mais voltar para quele lugar maldito. Miguel tranquilamente falou: Então, tudo bem. Vou sozinho. Tentaram segura-lo de todas formas, mas Miguel desceu o barco novamente e remou para a terra prometida. Chegando na margem gritou para todo o infinito:
- Eu Miguel Della Cruz batizo esta terra com nome do meu ilustrissímo avô Angel Della Cruz. A ilha Angel Della Cruz!



Marcelo G. Dos Santos
Paixão, Gol & Rock N’Roll
BH, 08 de Novembro de 2004

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