Alma Sobrevivente

Alma Sobrevivente

Tenta enganar, o espírito teima em escapar

Finge o presente com uma máscara sorridente

Vive atolado na hipocrisia, todos os dias tem azia

Aceita a sociedade e conspira contra a felicidade

Chega uma hora que não suporta, deixa a boca do chefe torta

É um ganso em família de pato manso

Descobre que ser feliz é sempre por um triz

Berra na chuva, bate com a luva

Entra em desespero, procura o velho tempero

Vive o capitalismo, mas precisa é de exorcismo

A alma é da rebeldia, toda mudança é necessária mesmo que tardia

Confunde o sossego com apego

Chuta o despacho e debocha do esculacho

Fica pasmo diante do entusiasmo

Sacrifica o louco só por um pouco

Viu o inferno e fugiu antes que ele fosse eterno

Busca o perdão em nome de uma real emoção

A liberdade sacrificou e a verdade desabou

Marcelo G. dos Santos

Paixão, Gol & Rock N´Roll

BH, 15/05/2008

Aceitar ou arriscar...

Aceitar ou arriscar...

Foges da dor e perdes o ardor

Prega a paz, mas só enaltece o que jaz

Esconde o segredo, mas esquece o enredo

Deseja a felicidade, mas não pratica a solidariedade

Marca o desejo, mas não dá um só beijo

Mira o futuro, mas seu presente está escuro

Mata a esperança, mas sente falta do tempo de criança

Combate a rotina, não se lembra de sua sina

Não se permite pensar, muito menos amar

Foge do fogo da paixão se perde em uma fugaz decepção

A sinfonia opera conforme a sintonia

Não pratica o conhecimento, enamora-se pelo sofrimento

Não se arrisca por medo, a desilusão vem cedo

Alimenta-se só o ego, vive-se eternamente cego

Fraqueja no caminho e esquece-se que não se evolui sozinho

Marcelo G. dos Santos

Paixão, Gol, & Rock N´Roll

BH, 14/05/2008

Amor imortal

Amor imortal

Amansa o vendaval

Consagra o carnaval

Enfumaça o canavial

Adestra a serpente

Tranqüiliza o demente

Certifica a semente

Esquece o salário

Vence o salafrário

A morte esquece o inventário

Não se renova a identidade

Viver a única vontade

A tranqüilidade liquida a necessidade

A esperança deixa de ser lembrança

A bonança não é mais coisa de criança

A temperança constitui uma eterna trança

Marcelo G. dos Santos

Paixão, Gol & Rock N´Roll

BH, 07/10/2007

Ressaca não-literal

Ressaca não-literal

Bebe até a última gota

A rampeira vira garimpeira

A verdade escorre e a lembrança não socorre

O ânimo da noite fraqueja com o açoite

A violência é um namoro com a demência

A rotina sem sal termina em momento cabal

A máscara da morte muda qualquer sorte

A cabeça voa e a força fica atoa

A ação sufoca a emoção

O mistério vira critério

A zorra inveja Sodoma e Gomorra

A pirraça se vence na raça

O romance é um suposto alcance

A mentira é a possível dor que conspira

O fundo do poço é um possível esforço

A mágoa não acalma

A crença entra em metamorfose com a doença

A mágica fica trágica

Marcelo G. dos Santos

Paixão, Gol & Rock N´Roll

BH, 25/04/2008