sexta-feira, 8 de junho de 2007

texto 19/02/2004

Um carnaval de sentimentos


Chega a época mais esperada pelos foliões de plantão, carnaval de sonhos, carnaval de pesadelos. Festa popular que excita, feriado que incita, a feitura de besteiras muitas vezes irremediáveis. Paixões são despertadas com o ritmo quente dos tambores, dos pandeiros, da bateria, mas desilusões podem estar sendo escritas sem o pensamento do narcótico carnavalesco.
Sentimentos estão à flor da pele nesta época do apogeu do verão, os bons e os ruins. Nosso espírito primitivo pede passagem na passarela, cabe a nós, saber o espaço que podemos concede-lo sem nos deixar tomados pelo instinto animal. Farriar, diversão, folia, é louvável e necessário na vida do ser humano, ainda mais do brasileiro, mas tudo tem seu limite e seu sentido.
Temos que ter compromisso com o nosso coração, respeito por si e pelo próximo, cada um tem seu espaço e isso deve ser conservado, sem excessos. Muitos chegam no carnaval e querem chutar o pau da barraca. Todo o ano eles foram certinhos, trabalharam, foram fiéis a suas famílias, mas na época do Rei Momo querem aprontar. Estão dispostos a esquecer seu caráter e índole no casaco do paletó, saindo de braços dados com a putaria dentro de sua fantasia de pirata, o saqueador dos setes bares.
A fidelidade só é utilizada verdadeiramente quando se há um real amor, por nós mesmos ou pelos outros. Quando se finge que ama o ser comporta-se todo o ano, maquinando a ocasião que vai dar um beijo aflito de paixão nos lábios tentadores e perigosos da traição. Quer ocasião mais apetitosa para os traidores do que o carnaval? É no meio do desfile que os compromissos falsos são ignorados e as garras da paixão arranham toda a carne louca de desejo.
Quem ama de verdade almeja já ir para a festança com a criatura digna de seu amor, não fica procurando sua alma quase gêmea dançando a moda do tira e põe, pode acontecer, mas sinceramente, é muito complicado. É melhor e bem mais certeiro buscar a felicidade em um lugar que não seja regado de sentimentos infiéis à cultura do amar.





Nós temos que conviver com vários demônios dentro de nós, mas soltar todos ao mesmo tempo em uma determinada situação não vai nos aliviar, mas sim, jogar mais peso futuro em nossas costas. Aproveitar o carnaval é um direito de todos, está em nosso sangue o som das cuícas roncando, mas tudo na vida tem o seu limite, tudo que sobra se perde e, às vezes é para todo e longo sempre.


MARCELO G. DOS SANTOS
PAIXÃO, GOL & ROCK N’ROLL
BH, 19/02/2004

Nenhum comentário: